Texto original do Sheikh Rasul Ja’fariyan. Traduzido ao inglês por Sayyid Ali e ao português por Vinícius Tanure.
A Pérsia se converteu ao Islã mais facilmente que outras regiões, apesar de, naturalmente, ter levado um certo tempo para se concretizar. A diferença entre a conversão dos persas ao Islã e a conversão de outros povos ao redor do mundo é que quase todos os persas se converteram ao Islã ao longo de três ou quatro séculos. Diferentemente de outras regiões, como a Espanha, cujos habitantes originais permaneceram cristãos e foram capazes de reestabelecer o controle da Espanha mais uma vez, ou em regiões em que grandes comunidades cristãs continuaram a prosperar, mesmo que não tenham reconquistado o poder regional.
Bertold Spuler escreve: “Quase todos os persas se tornaram muçulmanos em alguns poucos séculos, sem coerção externa significativa por parte de seus conquistadores. Isto contrastou com a situação na Mesopotâmia, na Síria, na Palestina e na Espanha, onde grandes comunidades cristãs continuaram existindo por séculos e, ou prevaleceram vitoriosamente, como no caso da Espanha, através da reconquista empreendida pelos reinos cristãos do norte da Península Ibérica, ou sobreviveram como comunidades menores, como no caso do Egito, da Síria e da Palestina”. [1]
A rápida adaptação ao Islã pelos persas foi referenciada em muitos relatos históricos. Apesar de os zoroastristas terem continuado a viver em muitas cidades ao longo de dois a quatro séculos, a Pérsia já não era seu centro principal no século 4 A.H., conforme pode ser compreendido através da leitura do Ahsan al-Taqasim (As Melhores Divisões para o Conhecimento das Regiões) de Maqdisi (m. 390 A.H.). Aqui estão algumas razões que contribuíram para a aceitação do Islã pelos persas ao longo dos séculos:
- A superioridade cultural e educacional do Islã era muito mais atrativa para os persas do que o do Zoroastrianismo. O Zoroastrianismo foi mesclado com um sistema de castas sassânida e passou a se apresentar como uma religião que atendia apenas aos mais nobres. Era natural, então, que as pessoas aceitassem o Islã em detrimento do Zoroastrianismo se não houvesse outras barreiras impedindo-as.
- Outra razão era a militar, que, é claro, faz sentido no caso da Pérsia, apesar de, em muitas regiões, mesmo dentro da Pérsia, o Islã ter se difundido sem necessidade de dominação militar.
Em outras palavras, o próprio espírito da dominação muçulmana e sua vitória foi importante para o estabelecimento de um tipo de superioridade cultural e religiosa. O povo de Gilan e Daylam, que não estava sob domínio militar muçulmano no início das conquistas, manteve sua religião por dois séculos, até uma figura chamada Nasir al-Utrush, um missionário da seita xiita zaidita, ser capaz de transmitir o Islã entre este povo por razões culturais.
Em geral, a derrota política de uma nação prepara o terreno para uma mudança na cultura e nos rituais, novamente, desde que outras condições sejam atendidas.
- Outro motivo foi o político, dado que o governo sassânida, que apoiava a religião Zoroastrista, foi derrotado. O Império Sassânida era um tipo de teocracia, e agora que um ataque havia sido realizado com base em uma nova religião, o Islã estava desafiando, principalmente, a religião anterior. Visto que já não possuía apoio político, encarou desafios para manter sua existência.
- Outra razão foi a social, talvez a mais importante delas sendo o assentamento de árabes na Pérsia, de tal forma que muitas tribos árabes se assentaram em diferentes cidades da região, gradualmente propagando o Islã. Deve ser claramente dito que o assentamento de árabes na Pérsia foi uma das razões mais importantes para o sucesso do Islã na região. Este assentamento se dava, às vezes, na forma de tribos, ocupando um bairro, ou quando um indivíduo passava a morar numa residência na vizinhança, embora seu impacto só ocorra se este indivíduo fosse uma figura proeminente, como um estudioso da religião, um companheiro do Profeta, ou um tabi’, que podia ajudar no estabelecimento de uma escola de pensamento ao se mudar para uma cidade.
É válido mencionar que as tribos árabes se assentaram na maioria das cidades da Pérsia. Um exemplo disto é o caso da cidade de Gorgan, em que várias mesquitas foram construídas durante o governo da Dinastia Omíada e que eram nomeadas em homenagem a tribos árabes. Por exemplo, a Mesquita de Bajila, situada no bairro de Ali ibn Zuhayr; a Mesquita de Muharib, a Mesquita de Quraysh, a Mesquita de al-Hamra, famosamente conhecida como Barjub Rah al-Attar, a Mesquita al-Mawali, a Mesquita Khath’am, a Mesquita Hamdan, a Mesquita de Bani Dabha, a Mesquita de al-Azd, a Mesquita de Baji ‘iJl, a Mesquita de Taym ibn Tha’laba, a Mesquita de Bani Sinan, dentre outros.[2] Yaqubi, em seu livro al-Buldan, relata a difusão das tribos árabes em cidades persas, e sabemos que em cidades como Qom, a tribo Ash’ari se assentou e não apenas propagou o Islã, como também propagou o Xiismo. No entanto, nenhuma pesquisa independente e detalhada foi realizada sobre este tema até então.
Claro, os nativos, às vezes, ficavam insatisfeitos com a presença dos árabes, mas se tornaram, gradualmente, acostumados com sua presença. É relatado que o povo de Sogdia dizia: “Essas pessoas se misturaram conosco e nós permanecemos com elas, e elas se tornaram seguras de nós e nós, também, nos tornamos seguros delas”.[3] Para uma perspectiva individual, podemos ver a viagem de Said ibn Jubayr para Isfahan[4], ou a estadia de Waqid na mesma cidade, que se tornou muezim através de Abu Musa al-Ash’ari, com seus descendentes ainda sendo muezins até o século III A.H.[5] Um ponto interessante é que dezoito companheiros do Profeta (saws) foram para Isfahan. Além disso, muitos persas no Iraque conheceram companheiros do Profeta (saws). Por exemplo, o relato a seguir nos fala sobre o encontro de um persa com o Imam Ali:
Dawud ibn Sulayman al-Isfahani disse: estava com meu pai, no campo de esgoto de Kufa, quando vimos um idoso careca sobre uma mula, conhecido como Duldul, e cuja atenção do povo estava voltada a ele. Então, disse, ‘Ó, pai, quem é esse?’. Ele disse, ‘este é o rei dos árabes, este é Ali ibn Abi Talib’”.[6]
Quanto à propagação do Islã em Bukhara e os conflitos gerados pelo fato de os árabes estabelecerem residência em sua vizinhança, os detalhes a seguir são interessantes:
Os habitantes de Bukhara se tornaram muçulmanos, mas sempre que os muçulmanos partiam, eles apostasiavam. Qutaybah ibn Muslim os converteu ao Islã três vezes, mas eles apostasiavam [repetidamente], tornando-se infiéis. Na quarta vez que guerreou, sitiou a cidade e estabeleceu o Islã, depois disso, com muita dificuldade. Ele inculcou o Islã em seus corações e dificultou a apostasia de muitas formas. Eles aceitaram o Islã externamente, mas continuavam a adorar ídolos em segredo.
Qutaybah pensou ser apropriado ordenar que o povo de Bukhara desse metade de suas casas aos árabes para que estes pudessem se misturar com eles e informar-lhe sobre seus sentimentos. Então, eles seriam obrigados a serem muçulmanos. Assim, ele fez o Islã prevalecer e impôs leis religiosas sobre eles. Ele construiu mesquitas e erradicou traços de descrença e os preceitos dos adoradores do fogo. Ele trabalhou bastante e puniu todos que descumpriam os decretos das leis religiosas. Ele construiu uma grande mesquita e ordenou que o povo realizasse a oração de sexta-feira para que Deus recompensasse o povo de Bukhara por esta boa ação no Juízo Final.[7]
À medida que os árabes começaram a residir em diferentes partes da cidade, começaram a construir mesquitas para terem um local de oração. Visto que as mesquitas eram construídas através da substituição dos templos zoroastristas, a população zoroastrista eventualmente diminuiu. No Tabaqat al-Muhaddithin é relatado que Muawiya enviou alguém a Isfahan para extinguir o fogo que estava aceso em diversos templos zoroastristas.
O povo que se estabeleceu na cidade era o povo dominante e os habitantes originais eram o grupo derrotado. Com toda a santidade aconselhada pelo Islã para os muçulmanos manterem relações com os outros, às vezes algum tipo de discriminação religiosa era vista. O certo é que os árabes queriam segurança e estava tentando incluir isto em seus tratados. O tratado feito com o povo de Isfahan declara:
O montante de jizyah por ano é tanto quanto vocês puderem pagar, o qual todo adulto deve pagar ao coletor. É sua responsabilidade guiar os muçulmanos e dirigi-los aos seus destinos e hospedá-los dia e noite e dar carona a um homem a pé para um local de residência. Não dominem qualquer muçulmano e sejam gentis com eles, o acordo e o cumprimento deste acordo é sua responsabilidade. Se vocês mudarem seus caminhos, ou a outra parte fizer isso e vocês não se renderem, então vocês não estarão mais seguros, e quem insultar um muçulmano será punido, e quem bater em um muçulmano terá seu sangue derramado.[8]
No tratado mencionado acima, é possível um tipo de discriminação contra os persas, uma atitude sustentada pelos omíadas. É dito que o bairro de Taziyan, em Yazd, foi construído a partir da chegada dos árabes.[9] O assentamento dos árabes em Qazvin era significativo, se comparado com muitos outros lugares e, com relação a isso, podemos ver a história das tribos que residiram nesta cidade, que outrora fora uma importante cidade no Mundo Islâmico de antigamente.
A migração dos persas para o Iraque e seu retorno
A emigração dos persas para o Iraque e seu retorno à sua pátria deve ser levada em consideração como outro motivo para o crescimento do Islã. Por exemplo, Salman retornou a Isfahan durante o governo de Omar ibn al-Khattab. Hammad ibn Abi Sulayman Kufi (m. 120), era um dos prisioneiros da região de Borkhar em Isfahan, mais tarde, ele tornaria um grande sábio.[10] Waththab, o escravo liberto de Ibn Abbas viveu com ele por dois anos, e então retornou para Kashan.[11] Nafi ibn Abi Na’im Muqri’ disse ao povo de Medina que ele era originário de Isfahan, tal qual Ibn Abi al-Zinad, o Jurista, diria ser originário de Hamedan.[12]
Estas pessoas viveram no primeiro e no segundo século (A.H.), e muitos deles, que alcançaram posições elevadas e grandiosas no mundo muçulmano eram, originalmente, persas. Apesar de suas religiões originais não serem sempre conhecidas por nós, alguns podem ter sido zoroastristas, alguns cristãos e, talvez, alguns poucos podem ter sido judeus, e todos eles tinham algum nível de influência nos primeiros dias do Islã na sociedade muçulmana. Um exemplo interessante é o caso de Humran ibn Aban. Ibn Qutayba (m. 276), escreveu sobre ele:
Ele era um dos prisioneiros de Ayn al-Tamar durante o califado de Abu Bakr. Ele era um judeu e seu nome era Tuwayda. Uthman o comprou e o emancipou, então, se tornou escriba do califa. Certa vez, Uthman ficou decepcionado com ele, e o enviou a Basra, tornando-o administrador na região. Quando Mus’ab foi morto, ele começou a saquear Basra até que Khalid ibn Abdillah o removeu de sua posição. Quando Hajaj chegou, ele tomou cem mil dirhams dele à força, mas, com a assistência de Abdul Malik, o dinheiro foi devolvido. Ele se casou com uma mulher árabe e seus filhos também se casaram com mulheres árabes.[13]
Interessantemente, o nome de seu pai era Aba, que foi intencionalmente alterado para Aban em árabe. Mesmo o nome al-Tamari, uma referência ao cativeiro deste judeu em Ayn al-Tamar, foi alterado para al-Nimri, o nome de um clã árabe. Mus’ab, nos anos 60 do primeiro século da Hégira disse-lhe: “Ó, filho d’um judeu! És um descrente nabateu levado em cativeiro em Ayn al-Tamar”.[14] O motivo da menção deste exemplo é mostrar como alguns indivíduos eram rapidamente capazes de obter posições influentes nos primeiros dias do Islã.
O papel dos camponeses
O papel dos camponeses – que eram líderes de vilas e donos de terras – na propagação do Islã, que Spuler enfatiza, significa que ao se converter ao Islã, eles poderiam manter seus privilégios, especialmente em termos de propriedade. Ele escreve:
A elite, em todos os lugares, se juntou à religião dos conquistadores e, em retorno, os conquistadores permitiram que eles mantivessem sua influência e até mesmo se casassem com pessoas de suas famílias.[15]
Na verdade, tanto camponeses quanto guardas de fronteira puderam manter seu status, em alguma medida, ao se tornarem muçulmanos. Quando o rei sassânida foi derrubado e ainda não tinha sido substituído por outro, estes camponeses precisam de encontrar uma forma de sobreviver. Eles poderiam ter mantido sua religião, mas eles não seriam capazes de construir uma relação próxima com o governo. Mudando sua religião, é claro, o caminho para o sucesso se tornou mais fácil. Quando se converteram, muitos de seus colegas e contrapartes também o fizeram.
Diz-se que a islamização do Irã ocorreu, primeiramente, nos escalões mais altos da sociedade, ou seja, dentre aqueles que eram os verdadeiros proprietários da cultura iraniana e que também mantinham as antigas tradições heroicas persas, com sua ideia cavalheiresca de vida.[16] De acordo com Spuler, as similaridades entre o Zoroastrianismo e o Islã não foram ineficazes na aceitação do Islã. Crenças como a da criação do mundo em seis dias, a ressurreição, o inferno, os anjos e os demônios podem ter facilitado essa transição.[17] Parece que esta afirmação está enraizada num tipo de revisionismo e não possui nenhuma evidência robusta.
Em algumas cidades, os convertidos ao Islã pertenciam às classes mais baixas. Foi registrado que as pessoas de classe baixa de Bukhara se converteram ao Islã em grupos e, gradualmente, os nobres aristocratas, chamados de dehqan, se converteram ao Islã. Deve-se notar que os aristocratas e governantes locais tinham amargas disputas uns com os outros, e isso contribuiu para a presença de árabes muçulmanos na região. Os camponeses eram, originalmente, donos de terra que controlavam a terra sob sua posse como governantes. Durante a visita de Harun al-Rashid a Khorasan, ele foi hóspede de um fazendeiro por quatro meses. Harun disse ao seu ministro: “Este dehqan fez o possível para nos mostrar hospitalidade e não desperdiçou nem um minuto de nosso tempo. Somos obrigados a compensá-lo para que permaneçamos protegidos da vaidade e para mostrar-lhe o mais alto respeito pelos seus bons serviços.” Neste caso, isto nos dá um vislumbre do importante papel dos camponeses nesta região e como eles protegerem seu próprio poder e autonomia através da construção de boas relações com os conquistadores árabes.
Infelizmente, na metade final da Dinastia Omíada, para conseguir mais dinheiro através de uma taxação cada vez maior sobre os não-muçulmanos, os omíadas restringiram o caminho para a conversão de muitas pessoas para o Islã. Para aumentar o valor monetário do Bayt al-Maal, os omíadas criaram um período de estagnação nos números de novos convertidos ao Islã. No entanto, Bukhara permaneceu fortemente interessada no Islã e, apesar de estar sob a influência da pressão de alguns governantes locais, não abriu mão do Islã, buscando propagá-lo vigorosamente. Nos últimos anos dos omíadas e no início do governo abássida, Bukhara se tornou uma cidade de cultura árabe-islâmica, e obras anteriormente escritas na língua pálavi começaram a ser traduzidas para o árabe. O trabalho cultural planejado e a construção de mesquita, em vez de templos zoroastristas nos casos em que a cidade foi conquistada à força foram uma forma significativa de disseminar ainda mais a religião.
O autor do livro Tarikh-e Sistan escreve, “Rabi’ al-Harithi veio para Sistan e estabeleceu bons costumes e forçou as pessoas a adquirirem conhecimento, aprender o Alcorão e sua exegese. Ele estabeleceu a justiça e muitas pessoas arrogantes se tornaram muçulmanas por gentileza ao seu caráter”.[18] Nas cidades que foram forçosamente conquistadas pelos muçulmanos, os templos de fogo foram destruídos e mesquitas foram construídas em seu lugar. Caso contrário, se a cidade fosse conquistada através de uma trégua, os templos de fogo permaneciam, exceto onde esses templos eram usados para rituais pagãos ou budistas. A história de Bukhara é interessante, visto que seus habitantes eram, a princípio, idólatras, então se tornaram adoradores do fogo e, então, seus locais de adoração se tornaram mesquitas.
O rei ia para o bazar e se sentava num trono onde hoje é a Mesquita de Makh, assim, as pessoas eram encorajadas a comprar ídolos. Depois que todos compravam um ídolo para si, eles os levavam para casa. Então, este mesmo lugar se tornou um templo do fogo e no dia em que o mercado fosse montado, as pessoas se juntavam e visitavam o templo para adorar o fogo. O templo de fogo permaneceu até a chegada do Islã. Uma vez que os muçulmanos conquistaram o poder, construíram uma mesquita lá, tornando-se uma das famosas mesquitas da Bukhara contemporânea.[19]
O templo de fogo de Quhunduz em Nayshabur virou a Mesquita Jami’. No Tarikh Nayshabur, é dito que Abdullah Amir conquistou a cidade e destruiu o templo de fogo de Quhunduz, então construiu uma mesquita sobre ela. No começo, o povo de Bukhara sempre se rendia na presença dos árabes; mas assim que os árabes saíam, eles retornavam aos seus costumes antigos. A citação anteriormente mencionada de Narshakhi, em sua obra histórica sobre a conquista dos conquistadores árabes da cidade é um ponto que vale até mesmo para outras partes da Pérsia e da Transoxiana. Era natural que as pessoas reagissem e resistissem à nova religião, mas o fato de logo mudarem de ideia é um ponto que tem suas próprias razões. É sabido que o povo de Qazvin se converteu ao Islã mais rapidamente que qualquer outra cidade. Hamdullah Mustawfi, em sua obra escrita por volta de 730 A.H. esclarece alguns aspectos desta questão:
No Kitab al-Buldan está registrado que Qazvin foi conquistada por Bara’ ibn Azib (m. 71) e por Zayd al-Khayl Ta’i durante o califado de Omar ibn al-Khattab. Na época, a cidade era protegida pelas fronteiras construídas por Shapuri. O povo lutou contra os muçulmanos. Após a guerra, os muçulmanos enviaram uma mensagem dizendo que deveriam aceitar o Islã ou pagar a jizyah. Eles responderam, cantando: “Não nos tornaremos muçulmanos, nem pagaremos a jizyah. Voltem para Meca e estaremos a salvo”.
Os muçulmanos bloquearam a cidade e os pressionaram a fazer uma trégua, enquanto alguns se tornaram muçulmanos. Quando os muçulmanos partiram, apostasiaram, até que outro exército muçulmano liderado por Abd al-Rahman Harithi tomou controle da cidade. Foi no reinado de Omar que os habitantes de Qazvin realmente se converteram ao Islã, se esforçaram no caminho da religião, foram obedientes aos seus ensinamentos e alcançaram um status elevado.’[20]
Isenções fiscais
As isenções fiscais, com certeza, desempenharam um papel efetivo na conversão da classe mais baixa para o Islã. Por outro lado, deve-se notar que os omíadas também possuíam algumas estruturas que não concediam esta isenção. Pelo contrário, também tomavam a jizya de novos muçulmanos, impedindo o crescimento do Islã por um tempo. Esta política resultou na formação da Murji’a em Khorasan, um grupo de muçulmanos que acreditavam que a fé (iman) estava meramente confinada aos dois testemunhos e não aceitavam o rigor de Hajjaj e do governo omíada em relação ao que era necessário para uma pessoa ser crente.
Os esforços dos governos orientais
No primeiro e segundo séculos, as conquistas (futuh) eram um fator importante para a expansão da civilização islâmica e esta expansão foi feita a mando do Califado. Mais tarde, uma vez que governos locais tinham se estabelecido na Pérsia, eles mesmos continuavam a prática das conquistas em prol de sua própria força econômica e com o propósito de propagar a religião. Esta prática continuou até a época dos ghaznavidas, mais tarde, os otomanos e os safávidas continuaram a realizar conquistas no Ocidente e na região de Shirwan, respectivamente. O objetivo destas últimas conquistas era apresentado como sendo a expansão do Islã, que foi levado a vários lugares nas primeiras conquistas, apesar de também ter se difundido em muitos lugares sem quaisquer conquistas.
Um dos objetivos dos samânidas foi lutar pela propagação do Islã nas fronteiras mais longínquas da Transoxiana e do Turquestão. Ismail Samani, por exemplo, atacou a cidade de Taraz, onde hoje está a cidade de Auliye-Ata, e sofreu muito. Narshakhi escreve, “O governante de Taraz saiu e aceitou o Islã junto a muitos camponeses, e Taraz foi aberta. A grande igreja foi convertida na Mesquita Jami’ e o sermão foi dado em nome do comandante dos crentes, Mutadid Billah.
A força dos samânidas fez-lhes tomar uma posição ofensiva e atacar várias regiões habitadas pelos turcos da Ásia Central. Foi sob o controle deste poder que os muçulmanos gradualmente se mudaram para remotas áreas túrquicas e propagaram o Islã entre os turcos nessas regiões. Os ghaznavidas eram muito mais violentos neste sentido. Apesar de suas ações não serem inefetivas no avanço do Islã, eles não deixaram uma boa imagem do Islã na Índia, e a religião nunca foi capaz de plenamente conquistar os corações dos indianos, diferentemente do que ocorrera na Transoxiana.
A expansão do Islã entre os turcos através do proselitismo religioso
A propagação religiosa era uma das principais ferramentas para o crescimento do Islã entre os turcos da Transoxiana e os habitantes da Cumânia, de onde os seljúcidas emergiram. A propagação islâmica na Ásia Central, fora das fronteiras políticas do Califado, tiveram sucessos muito maiores que aqueles conquistados em outras partes do mundo islâmico.
No final do período samânida e após ele, a influência do Islã entre os turcos foi principalmente exercida por missionários, alguns dos quais eram sufis, que difundiram o Islã através da migração para essas regiões, influenciando os turcos. O Islã se difundiu em Tabaristan e Gilan através dos alidas. Há muita informação a este respeito no Tarikh-e Tabaristan de Ibn Isfandiyar (vivo em 613) e em outras fontes, e mesmo fontes históricas abássidas escritas em Bagdá reconhecem os fatos sobre os esforços de Nasir al-Utrush em propagar o Islã.
O gradual processo de conversão dos persas ao Islã
Um estudo demonstrou que o processo de conversão dos persas ao Islã começou lentamente no primeiro século (A.H.) e gradualmente elevou sua intensidade. Esta intensidade alcançou seu ápice no quarto século (A.H.) e todos os povos se converteram ao Islã, com exceção dos assírios, a oeste e pequenas comunidades de zoroastristas em Yazd e Shiraz. Este estudo é baseado no fato de que, no começo, dado os nomes dos sábios proeminentes nos quatro primeiros séculos de Islã, nomes persas são raramente vistos. Em uma árvore genealógica até o século IV (A.H.), o que vemos é que o primeiro ancestral geralmente tem um nome persa e é eventualmente sucedido por nomes árabes-islâmicos. Por exemplo, Ahmad ibn Husayn ibn Rustam, onde Rustam foi o indivíduo que se converteu ao Islã e, então, nomeou seu filho como Husayn.
Este método foi empregado por Richard Bulliet em sua obra Conversion to Islam in the Medieval Period: An Essay in Quantitative History. Bulliet compara o crescimento do Islã ao crescimento de um bicho-da-seda, dizendo que na primeira fase, de 10 a 15% das pessoas se convertem ao Islã, depois 40 a 60% e, no estágio final, os 10 a 15% restantes se tornam muçulmanos. Ainda resta um grupo que não se converteu ao Islã. Ele determina isto ao olhar para os nomes e genealogias de persas proeminentes que se converteram ao Islã, conforme registrado no Shadharat al-Dhahab de Abd al-Hayy ibn Ahmad ibn al-Imad (m. 1089) e vê como os ancestrais de muitas figuras com nomes islâmicos possuíam nomes persas. Deve-se mencionar, entretanto, que as conclusões de Bulliet só são aplicáveis aos nomes anteriores ao quarto século, visto que entre os séculos 4 e 6 (A.H.), os persas muçulmanos começaram a usar nomes persas para nomear seus filhos mais uma vez, como no caso dos buídas, onde vemos isto em excesso.
Conversões voluntárias ou forçadas
Um dos tópicos de discussão mais comuns sobre a conversão dos persas ao Islã é se eles foram obrigados a fazê-lo ou se se tornaram muçulmanos voluntariamente. O que encontramos na literatura histórica é que as duas visões estão corretas. O ponto mais importante de se considerar sobre os persas é que eles podiam manter a prática do zoroastrismo e, desta forma, não era possível aos conquistadores obrigá-los todos a se tornarem muçulmanos.
Outra coisa que deve ser levada em consideração é que os conquistadores muçulmanos recebiam privilégios, independentemente de os convertidos serem da classe baixa ou alta. No entanto, eles não tinham o direito de forçar as pessoas a se tornarem muçulmanas para buscarem estes privilégios. Se uma cidade era conquistada à força, os conquistadores, em geral, demoliam os todos os templos de fogo, mas se fosse conquistada através de uma trégua, em geral, os templos permaneciam de pé, mas podiam fazer uma condição com os habitantes de que eles não poderiam construir novos templos de fogo.
Por um lado, a complexidade da dinâmica envolvida na mudança de religião, que corresponde aos muitos fatores existentes, torna difícil dar um veredito claro sobre esta questão específica, mas, por outro lado, mostra que houve casos diferentes e nenhum procedimento único foi seguido. Jamsheed Choksy em seu Conflict and Cooperation: Zoroastrian Subalterns and Muslim Elites in Medieval Iranian Society afirma que a maioria das pessoas nas cidades do Azerbaijão, Khuzestan e Sistan se converteram ao Islã voluntariamente como resultado das atividades dos missionários religiosos que pregavam a religião para famílias e tribos. O livro de Choksy vale a pena ser lido por qualquer pessoa interessada em aprender sobre a conversão dos persas do Zoroastrismo ao Islã.
[1]Iran in the Early Islamic Period: Politics, Culture, Administration and Public Life between the Arab and the Seljuk Conquests, 633-1055, by Bertold Spuler, pg. 125.
[2]Tārīkh Jurjān, by Abū al-Qāsim Ḥamza b. Yūsuf (d. 427) pg. 19.
[3]Ṭabarī, vol. 3, pg. 596.
[4]Ṭabaqāt al-Muḥaddithīn, vol. 1, pg. 367.
[5]Ibid., vol. 1, pg. 359.
[6]Ibid., vol. 1, pg. 370.
[7]The History of Bukhara, by Abū Bakr Muḥammad Narshakhī (d. 348) pg. 47-48.
[8]Akhbār Isfahān, by Abū Na‘īm Aḥmad b. ‘Abdillah (d. 430), pg. 139-140.
[9]Farhang Īrān Zamīn, vol. 16, pg. 139.
[10]Ṭabaqāt al-Muḥaddithīn, vol. 1, pg. 333.
[11]Ibid., vol. 1, pg. 333, 355-357.
[12]Ibid., vol. 1, pg. 382.
[13]Al-Mā‘ārif, pg. 435.
[14]Tārīkh al-Ṭabarī, vol. 5, pg. 5.
[15]Iran in the Early Islamic Period, by Bertold Spuler, pg. 128.
[16]Ibid., pg. 130.
[17]Ibid., pg. 131.
[18]Tārikh-e Sistān, pg. 91.
[19]The History of Bukhara, by Abū Bakr Muḥammad Narshakhī (d. 348) pg. 19.
[20]Tārīkh-i Guzīda, pg. 777.



