Os drusos e a Síria atual: lendo através do conflito

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Texto de Robert Carter (5Pillars). Traduzido por Vinícius Tanure.

A província síria de Suwayda tornou-se cenário de grandes confrontos entre forças tribais sírias, milícias drusas apoiadas por Israel lideradas por Hikmat al-Hijri – clérigo druso opositor do Governo de Transição – e crescente intervenção israelense tudo dentro de uma estratégia israelense mais ampla para desestabilizar o sul da Síria.

O conflito começou quando confrontos eclodiram entre as tribos beduínas e os militantes drusos de al-Hijri, abertamente apoiados por Israel.

O exército sírio e forças internas de segurança interviram, inicialmente, para evitar uma escalada dos combates, mas foram atacados de forma traiçoeira pelos militantes drusos.

Isso levou a confrontos diretos, nos quais fontes locais afirmam que mais 800 soldados e forças de segurança sírias foram mortas, agravados por ataques de drones e aviões israelenses contra posições sírias.

Israel intensificou a ofensiva ainda mais, atacando o Ministério da Defesa da Síria e o Palácio do Povo, em Damasco, alertando formalmente o governo para retirar suas forças de Suwayda.

Israel Strikes At The Heart Of Syria's Military Command In Dramatic  Escalation (Updated)

Momento do ataque ao Ministério da Defesa da Síria em 16 de julho de 2025.

Essas medidas se encaixam numa política israelense mais ampla de manter o sul da Síria particularmente áreas ao sul de Damasco em instabilidade perpétua, garantindo que Tel Aviv mantenha o pretexto para intervir sempre que julgar necessário.

Como parte desta estratégia, Israel ordenou que o governo sírio não apenas se retirasse de Suwayda, como da província de Daraa e de toda a parte sul de Damasco.

Oficiais israelenses foram além, declarando publicamente que o presidente sírio, Ahmed al-Sharaa “precisa ser eliminado”, marcando uma escalada retórica sem precedentes contra a liderança síria.

Além disso, Tel Aviv revelou sua intenção de estabelecer uma rota terrestre estratégica denominada “Corredor de David”.

Este corredor conectaria o sul da Síria, ao longo da fronteira jordaniana, aos territórios controlados pelas Forças Democráticas Sírias (SDF) e Unidades de Proteção Popular (YPG) grupos militantes curdos apoiados pelos Estados Unidos no leste sírio, driblando a autoridade de Damasco.

Hikmat al-Hijri teria requisitado ao Reino da Jordânia a abertura de uma nova passagem na fronteira entre Suwayda e a Jordânia para facilitar esse plano.

Representação em mapa do proposto “Corredor de David”.

Depois da retirada do exército sírio sob mediação árabe-estadunidense e pressão israelense os militantes drusos lançaram ataques brutais contra a população beduína.

Syrian army withdrawing from Suwayda on July 16, 2025. Photo: SANA

Retirada do exército sírio de Suwayda. 16 de julho de 2025.

Dentre as atrocidades registradas estão massacres, deslocamentos forçados, execuções públicas, decapitações de crianças, bombardeio a mesquitas, vítimas atiradas de prédios e incêndio de casas tudo orgulhosamente filmado e publicado pelos próprios perpetradores.

Em resposta, as forças tribais sírias montaram uma contraofensiva em larga escala, entrando na cidade de Suwayda, capturando dezenas de aldeias nas zonas rurais do norte e oeste, e cercando a cidade por três lados.

Foto da Síria supostamente mostrando um combatente druso posando em frente ao corpo de um beduíno muçulmano morto.

As forças tribais libertaram mais de 400 mulheres e crianças que cercadas em bairros beduínos.

A proporção destas atrocidades provocou uma mobilização geral de mais de 41 tribos árabes de toda a Síria e regiões vizinhas, que declararam sua participação na luta contra os militantes drusos apoiados por Israel.

Image of Fighting resumes between Druze, Bedouins in Syria’s Suwayda

Combatentes de tribos beduínas se reúnem na vila de al-Mazraa, na província de Suwayda, no sul da Síria, enquanto confrontos com homens armados drusos continuam em 18 de julho de 2025.

Notavelmente, a coalizão tribal emitiu um aviso direto ao governo sírio para que não intervenha militarmente em Suwayda.

Eles enfatizaram que a campanha atual é uma questão de honra tribal e justiça pelos beduínos massacrados e que qualquer interferência governamental seria vista como apoio ou proteção aos criminosos responsáveis por essas atrocidades.

Enquanto isso, al-Hijri solicitou, repetidas vezes, que Damasco mobilizasse forças especificamente para deter o avanço tribal na zona rural ocidental de Suwayda. Até então, no entanto, o governo sírio tem se recusado, mantendo a condição de que qualquer intervenção militar só ocorreria se todas as milícias incluindo as facções drusas apoiadas por Israel se desarmassem e entregassem o controle total da província ao estado.

Nas áreas controladas pelos drusos, os militantes foram vistos celebrando e posando com bandeiras israelenses, entoando slogans favoráveis a Israel, expondo ainda mais o seu alinhamento com a agenda de Tel Aviv.

Syrian Druze fly Israeli flag on roof in Sweida as IDF strikes regime  targets

Militantes drusos hasteiam bandeira israelense em prédio em 16 de julho de 2025 em Suwayda, Síria.

Apesar da magnitude da violência, ataques aéreos israelenses e provocações regionais, a comunidade internacional e a mídia global permanecem, em geral, em silêncio, atraindo críticas generalizadas por seus padrões duplos principalmente porque as vítimas são, em sua maioria, da população beduína muçulmana.

Líderes tribais sírios, apoiados por dezenas de tribos árabes, prometeram continuar sua campanha para libertar seu povo, proteger suas terras e frustrar interesses estrangeiros incluindo os planos israelenses de partição e controle de áreas estratégias no sul da Síria.

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