Massacre na Flotilha: quando Israel matou 10 ativistas que levavam ajuda para Gaza

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Com a ida de Mansur para Gaza junto com a mais nova Flotilha que leva apoio humanitário e busca quebrar o cerco israelense imposto há quase duas décadas, é interessante que, além de cobrirmos o que está ocorrendo, também tratemos de outras iniciativas similares ocorridas no passado. No presente texto, voltaremos 15 anos na história e falaremos do ataque ao Mavi Marmara, episódio onde Israel não mediu forças e vitimou ativistas levando ajuda para Gaza. Esperamos que atos do gênero nunca voltem a se repetir, porém a história não deve ser esquecida.

Os dez mártires turcos assassinados por Israel.

A Flotilha da Liberdade de Gaza, organizada em maio de 2010, representou uma das mais ambiciosas tentativas da sociedade civil de romper o bloqueio naval imposto por Israel à Faixa de Gaza. Composta por seis embarcações civis, a iniciativa foi liderada por uma coalizão de organizações, incluindo o Movimento Free Gaza e a Fundação Turca para os Direitos Humanos e Liberdades e Ajuda Humanitária (İHH). O navio MV Mavi Marmara, de bandeira das Comores, era a principal embarcação da frota, transportando mais de 600 ativistas, além de ajuda humanitária e materiais de construção destinados à população de Gaza, que vivia sob cerco israelense desde 2007.

A missão declarada da flotilha era explicitamente desafiadora, assim como é hoje: navegar diretamente para Gaza para entregar a ajuda e, simbolicamente, quebrar o bloqueio ilegal. Na madrugada de 31 de maio de 2010, enquanto navegava em águas internacionais, a aproximadamente 130 quilômetros da costa, a flotilha foi interceptada pela Marinha de Israel. Comandos da unidade de elite Shayetet 13 abordaram as embarcações a partir de helicópteros e lanchas rápidas, dando início a um dos eventos mais sombrios na história do ativismo pró-palestino.

A bordo do Mavi Marmara, a abordagem israelense encontrou forte resistência por parte de um grupo de ativistas. Relatos indicam que os soldados foram confrontados com barras de ferro, facas e outros objetos, resultando em um confronto violento. As forças israelenses responderam com o uso de força letal, alegando legítima defesa. A operação culminou na morte de dez ativistas civis, nove durante o ataque e um que faleceu anos depois devido aos ferimentos, além de dezenas de feridos entre os passageiros. Do lado israelense, dez soldados ficaram feridos durante o confronto.

Soldados israelenses subiram na embarcação, suas ações culminaram na morte de 10 ativistas turcos.

O resultado da operação gerou uma condenação internacional generalizada e uma grave crise diplomática, especialmente entre Israel e a Turquia, país de origem da maioria das vítimas e da organização İHH. O incidente foi levado a diversas instâncias internacionais, que produziram relatórios com conclusões divergentes. O Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (UNHRC) classificou as ações de Israel como “desproporcionais” e de “nível inaceitável de brutalidade”, apontando evidências de “assassinato deliberado”, o que por definição contradiz a ideia de legítima defesa.

Em contrapartida, um painel separado da ONU, conhecido como Relatório Palmer, embora tenha concluído que o grau de força utilizado contra o Mavi Marmara foi “excessivo e irracional”, considerou o bloqueio naval a Gaza como uma medida legal.

A investigação do UNHRC foi ainda mais contundente, afirmando que a morte de pelo menos seis passageiros ocorreu de maneira consistente com uma “execução extrajudicial, arbitrária e sumária”. As autópsias realizadas na Turquia revelaram que as vítimas foram atingidas por múltiplos disparos, muitas vezes à queima-roupa, o que intensificou as acusações de uso excessivo da força. Esses detalhes forenses foram cruciais para a narrativa de que a ação militar israelense ultrapassou os limites da legítima defesa e foram absolutamente indefensáveis, mesmo para quem sustenta(va) que o bloqueio era legal.

O ataque ao Mavi Marmara deixou um legado duradouro e infelizmente tornou-se um precedente sombrio para futuras missões humanitárias e solidificou a percepção de muitos sobre a intransigência do bloqueio israelense. O incidente não apenas resultou em perdas humanas trágicas, mas também deteriorou severamente as relações entre Israel e Turquia, que levaram anos para serem parcialmente restauradas. A memória do ataque de 2010 continua a ecoar, servindo como um alerta para os riscos envolvidos em ações de desafio direto a bloqueios militares, mesmo quando motivadas por razões humanitárias. Relembrar essa história serve para que não nos esqueçamos do que Israel é capaz, para que assim o passado jamais volte a se repetir.

Protestos celebram a memória dos mártires e demonstram apoio à Palestina.

Referências:

BOOTH, Robert. Gaza flotilla activists were shot in head at close range. The Guardian, 4 jun. 2010. Disponível em: <https://www.theguardian.com/world/2010/jun/04/gaza-flotilla-activists-autopsy-results>. Acesso em: 17 set. 2025.

Israelis fired 308 bullets aboard Gaza ship: general. Reuters, 2010. Disponível em: <https://www.reuters.com/article/us-israel-flotilla-general-idUSTRE69N0Q320101024/>. Acesso em: 17 set. 2025.

Israel’s flotilla raid revives questions of international law. The Washington Post, 2010. Disponível em: <https://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2010/06/01/AR2010060102934.html?hpid=topnews>. Acesso em: 17 set. 2025.

SMITH, Helena. Israelis opened fire before boarding Gaza flotilla, say released activists. The Guardian, 2010. Disponível em: <https://www.theguardian.com/world/2010/jun/01/gaza-flotilla-eyewitness-accounts-gunfire>. Acesso em: 17 set. 2025.

U.N. Report Finds Israeli Blockade Legal but Raid Flawed. The New York Times, 2011. Disponível em: <https://www.nytimes.com/2011/09/02/world/middleeast/02flotilla.html>. Acesso em: 17 set. 2025.

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